sexta-feira, 30 de novembro de 2007

A hibernação




Vem aí aquela altura do ano em que por alguns dias nos tornamos mais compreensivos, mais solidários, menos egoístas e mais atentos ao que verdadeiramente se passa à nossa volta. São alguns dias em muitos de um ano inteiro, que nos faz perder a cabeça por aquele objecto tão desejado por nós ou para alguém. Nesta altura do ano, tudo é perdoável, tudo é levado com um espírito de bem haja e saudação esplêndida. Somos todos amigos dos que durante 11 meses do ano ficam guardados no canto do sobreolho.
Os patrões lembram-se que durante 1 mês do ano existimos, concedendo um dia ou dois (dependendo se o ano foi ou não frutífero em obras de engenharia – pontes), e rezam para os leigos agradecimentos de esforço e sacrifício. Durante alguns dias, dizer palavrões cai mal, chamar o próximo pela sua relação materna é ofensa, e roubar é querer ser igual aos que passarão uma noite ao som dos sinos com uma lareira a fumegar e um peru que demora 5 dias a comer.
Durante 1 mês, vamos todos andar bem dispostos, embora seja a altura do ano mais fria. Durante 30 dias vamos encher as lojas com sacos que já vieram cheios de outras lojas, conscientes que no dia imediatamente a seguir ao Natal, compraríamos a mesma coisa por metade do preço.
Agora vem a parte pior:

É o mês do ano em que um surfista sai de água a arrotar a fatias douradas, com as mãos engelhadas do frio e com as orelhas roxas do vento de norte. O único mês em que conseguimos dropinar alguém sem levar para casa um nariz igual ao do pai natal. Única altura do ano em que o fato parece ter sido um mau investimento, pois nunca chega a secar. Talvez fosse útil ter dois, já que é Natal. É o mês dos dias estupidamente pequenos em que acabamos de almoçar e já estamos com vontade de lanchar – hábito britânico da minha costela Inglesa em gostar de “tea-time” quando o sol começa a laranjar.

Com todas as razões que me vêm à memória posso afirmar que o Natal é a altura do ano em que só me apetece correr para a Primavera seguinte. Será que sofro daquela doença sazonal?

Tenho saudades do Natal da minha terra natal! Calor quanto baste, renas de mini saia e neve artificial se me apetecer. Pinheiro de plástico com enfeites feitos em casa. No Natal tenho saudades dos restantes meses do ano. Daqueles em somos verdadeiramente sinceros, francos e leais com quem nos rodeia. Dos meses em que não dizemos “ah…é uma vez no ano”. Tenho saudades dos meses de ingratidão no trabalho, não havendo perdão para ninguém!

Tenho saudades dos 11 meses que compõem o meu ano.